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BNDES - Agência de Notícias

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17:10 24/09/2025

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Estratégia de investimento em mercado de capitais: priorizando a agenda verde

 

A BNDESPAR – braço de participações societárias do BNDES – divulgou recentemente seu retorno ao mercado com uma nova estratégia de atuação. Aproveitando o evento “A retomada dos investimentos e o papel do BNDES no mercado de capitais”, entrevistamos Marcelo Marcolino, superintendente da Área de Mercado de Capitais, Investimentos e Participações do BNDES, e representantes de duas das novas empresas investidas: Vinicius Mazza, Diretor de Finanças e Gente e Gestão da Santa Clara Agrociência Industrial, e Eduardo Couto, CFO da Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer.

 

Por que o BNDES está lançando uma nova estratégia de investimento em renda variável após dez anos? Em linhas gerais, quais os principais direcionadores da estratégia de apoio da BNDESPAR e como ela pretende contribuir para o desenvolvimento brasileiro?

[Marcelo Marcolino]:
 Há diversos estudos que correlacionam mercados de capitais fortes com economias de elevado desenvolvimento econômico e social. 

A BNDESPAR é um importante instrumento de indução de políticas públicas e vem se adaptando ao longo do tempo às necessidades de desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

A revisão da estratégia e retomada dos investimentos vem nesse sentido, de utilizar o potencial da BNDESPAR para induzir novos investimentos junto a empresas nacionais inovadoras e democratizar o acesso ao mercado de capitais, tanto para empresas quanto para investidores.

Os princípios direcionadores levam em conta as lições aprendidas e melhores práticas de mercado.  A ideia é atuar com foco em setores prioritários, alinhados a políticas públicas relevantes como o PTE [Plano de Transformação Ecológica], a NIB [Nova Indústria Brasil] e o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e à estratégia do BNDES, e prevê a participação direta em empresas com alto potencial de inovação e crescimento, sempre de forma minoritária, bem como reforçando a participação indireta, através de chamadas públicas para novos fundos de investimento.

 

A primeira nova operação de investimento da BNDESPAR foi com a Santa Clara, uma empresa do setor agro com foco em fertilizante e bioinsumos. Por que o agronegócio aparece como setor relevante para essa retomada?

 [Marcelo Marcolino]: O agronegócio é estratégico para a economia brasileira e o uso de fertilizantes tradicionais, além de ter impacto negativo na balança comercial, produz impactos ambientais relevantes.

O investimento direto em Santa Clara, o primeiro da BNDESPAR depois de dez anos, atinge diversos objetivos ao apoiar o plano de negócios de uma empresa nacional inovadora, com sócios comprometidos, alto potencial de crescimento e em um segmento estratégico, como chamamos aqui de agenda verde.

 

A Santa Clara atua na pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização de fertilizantes e bioinsumos. Poderia nos explicar melhor o que são estes produtos? Considerando que o setor de fertilizantes tradicionais é conhecido por sua alta emissão de gases de efeito estufa, como os fertilizantes especiais e bioinsumos podem contribuir na transição para uma agricultura sustentável?

[Vinicius Mazza]: Atuamos nos segmentos de nutrição especial de plantas e bioinsumos.

Nutrição especial de plantas compreende soluções, baseadas no marco regulatório de fertilizantes, contudo voltados a ganhos de produtividade significativamente adicionais, perante o investimento realizado. Isso é possível devido à utilização desses produtos através de estratégias sofisticadas de manejo agrícola que visam à redução de impactos de stress climático, redução do uso de água, prevenção de doenças, potencialização do efeito de defensivos, potencialização da qualidade de maturação, entre outros efeitos fisiológicos desejáveis.

O uso desse tipo de insumo permite alavancar a produtividade com a mesma quantidade de fertilizantes tradicionais e demais produtos químicos, tornando melhor a proporção de carbono utilizada na cadeia versus produção de alimento obtida. Com isso temos melhor aproveitamento de recursos que são finitos, relacionados à nutrição de plantas.

Já o segmento de bioinsumos atua, principalmente, na proteção de cultivos agrícolas, notadamente no combate a pragas e doenças que afetam diretamente o ciclo vegetativo das plantas, concorrendo diretamente com a produção de alimentos, fibras e energia. Esses insumos podem ser obtidos por meio de diversas tecnologias, mas simplificadamente dizemos que são provenientes de micro-organismos e extratos botânicos, ambos altamente eficientes no controle para os alvos de interesse e também extremamente compatíveis com a biodiversidade, solos e recursos hídricos.

Os bioinsumos também permitem que o Brasil possa diminuir a dependência de sais químicos importados, utilizados na produção de agroquímicos. O Brasil, pela sua extensão agrícola e pelo clima tropical, é altamente exposto a pragas e doenças, portanto as tecnologias de bioinsumos são uma estratégia extremamente relevante para uma produção de alimentos mais eficiente e mais sustentável.

A BNDESPAR realizou uma subscrição primária de ações da Santa Clara. O que isso significa? Como essa operação está alinhada com a estratégia de longo prazo da BNDESPAR e como a BNDESPAR pretende obter retorno e liquidez para esse investimento?

[Marcelo Marcolino]: Significa que os recursos vão para o caixa da companhia, para que ela possa seguir com seus planos de investimento e buscar alavancar seu crescimento, gerando empregos e desenvolvimento, em linha com a estratégia da BNDESPAR.

O atingimento dos objetivos pactuados no plano de negócios da companhia permitirá que futuramente sejam avaliadas as melhores alternativas de saída da BNDESPAR do investimento, que pode se dar, por exemplo, através de listagem em Bolsa, dentre outras possibilidades, onde espera-se que não apenas a BNDESPAR, mas os demais sócios e o mercado obtenham retornos adequados.

 

A Santa Clara tem um foco em pesquisa e inovação. Por que a empresa tomou essa decisão e como o investimento em pesquisa e desenvolvimento impactou o crescimento da empresa ao longo dos anos? Por que o grupo tomou a decisão de buscar a BNDESPAR?

[Vinicius Mazza]: Para o Grupo Santa Clara, poder contar com o apoio da BNDESPAR permitirá prosseguir com sua estratégia de ser uma das principais empresas nacionais, com forte participação no Brasil e em diversos países de relevância agrícola, como fornecedora desses insumos, visando a perenidade do negócio e ampliando a sua capacidade inovativa e de capital intelectual. Os acionistas fundadores entendem que o papel exercido pela BNDESPAR vai ao encontro da filosofia do Grupo Santa em inovar para o futuro, desenvolver pessoas e capital intelectual e proporcionar um legado relevante para a nossa agricultura.

Também entendemos que a BNDESPAR ajudará a alavancar a gestão do negócio, apoiando em temas que são mais estratégicos ao negócio, conciliando a visão dos empreendedores com as melhores práticas de gestão. Com isso, a companhia estará mais fortalecida a ser competitiva em novas fases e desafios que, naturalmente estão por vir, com o crescimento do negócio.

 

A segunda operação de investimento da BNDESPAR foi na Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer que está desenvolvendo um modelo de eVTOL (carro voador), que será fabricado em Taubaté, no Vale do Paraíba paulista. Qual o objetivo da BNDESPAR ao investir em um empreendimento desse tipo? Como ele está relacionado à estratégia de longo prazo de renda variável do BNDES e o que esse investimento e o da Santa Clara têm em comum?

[Marcelo Marcolino]: O investimento na Eve cristaliza o papel de um banco de desenvolvimento atuando em mercado de capitais, que é o de induzir investimentos em segmentos inovadores e de grande potencial de desenvolvimento.

A Embraer é uma das empresas mais inovadoras do país e o BNDES é um parceiro de longa data.  O investimento ajudará a Eve a gerar empregos qualificados e inovação de ponta, disputando a liderança com empresas globais no segmento.

Estamos muito felizes que os primeiros investimentos nesta retomada da BNDESPAR tenham sido em Eve e Santa Clara, empresas ligadas a pautas fundamentais como descarbonização e agenda verde, que serão o futuro do país.

 

O desenvolvimento de eVTOLs (veículo elétrico de pouso e decolagem vertical) pela Eve, é um projeto inovador e greenfield. Na sua visão, como esse empreendimento pode impactar a indústria brasileira e suas cadeias produtivas?

[Eduardo Couto]: O desenvolvimento dos eVTOLs (veículos elétricos de pouso de decolagem vertical) pela Eve representa um marco estratégico para a indústria brasileira, com potencial para criar uma cadeia produtiva de alta complexidade tecnológica e elevado valor agregado. A fábrica em Taubaté, primeira do gênero no Brasil, terá capacidade inicial de produção de 120 unidades por ano, com possibilidade de expansão para até 480 unidades conforme a evolução do mercado. A planta será abastecida por energia limpa e renovável, reforçando o compromisso da companhia com a agenda ESG [environmental, social and Governance] e com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.

A iniciativa deve impulsionar diversos setores da economia, incluindo engenharia, manufatura avançada, infraestrutura e serviços especializados, contribuindo para a geração de empregos qualificados e para o fortalecimento da competitividade nacional. Além disso, a introdução de aeronaves 100% elétricas, de baixo ruído e zero emissão, contribuirá de forma direta para a redução das emissões do setor de transporte, responsável por aproximadamente 23% das emissões globais de CO₂, segundo dados da ONU.

De acordo com estimativas apresentadas no estudo de Perspectivas de Mercado Global de eVTOLs elaborado pela Eve, a frota mundial poderá atingir cerca de 30 mil unidades até 2045, movimentando aproximadamente US$ 280 bilhões. Nesse contexto, a empresa mantém a maior carteira de intenções de compra do mercado mundial de aproximadamente 2.800 aeronaves, sendo 355 no Brasil, contemplando aplicações que incluem transporte urbano ponto a ponto, turismo, serviços corporativos.

 

A Eve é controlada pela Embraer. Como a empresa se beneficia da experiência da Embraer no desenvolvimento e certificação de aeronaves? Existem sinergias em outras áreas que podem se transformar em vantagens competitivas frente a outros concorrentes?

[Eduardo Couto]: A Eve se beneficia diretamente da experiência acumulada pela Embraer ao longo de 56 anos de atuação na indústria aeroespacial, o que proporciona conhecimento consolidado em desenvolvimento, certificação e produção de aeronaves. Desde a concepção, o eVTOL da Eve foi projetado para atender aos mais elevados padrões de segurança, por meio de um processo estruturado que integra certificação, produção, suporte financeiro e serviços de pós-venda.

O modelo de atuação da Eve contempla uma abordagem abrangente, que combina o desenvolvimento da aeronave com soluções complementares, como sistemas de gerenciamento de tráfego aéreo urbano, serviços pós-vendas e suporte operacional. Essa estratégia visa oferecer aos clientes um portfólio completo, robusto e escalável, capaz de atender diferentes perfis de operação e mercados.

A sinergia com a Embraer também garante acesso a equipes, processos e infraestrutura já credenciados junto a autoridades aeronáuticas como ANAC, FAA e EASA, fortalecendo a capacidade da empresa de atender aos requisitos técnicos e regulatórios necessários para a entrada em operação comercial.

 

O que você pode nos dizer sobre o cronograma de certificação, primeiros vôos e primeiras entregas?

[Eduardo Couto]: Em 2024, a Eve apresentou seu primeiro protótipo em escala real na planta da Embraer em Gavião Peixoto. Atualmente, a aeronave está submetida a ensaios essenciais, incluindo testes de vibração, propulsão e emissão de ruído. Embora este protótipo não seja destinado à campanha de certificação, ele desempenha papel fundamental na validação de modelos computacionais e no aperfeiçoamento de componentes. Paralelamente, a empresa mantém colaboração estreita com a ANAC e com autoridades internacionais, como a FAA, para definição dos meios de conformidade aplicáveis ao processo de certificação.

A previsão atual é que a campanha de voos tenha início no fim de 2025. As primeiras entregas comerciais estão projetadas para 2027. Nesse sentido, a empresa firmou um acordo com a Revo (empresa brasileira de mobilidade aérea urbana), que prevê a aquisição de até 50 eVTOLs, além de soluções completas para entrada em operação e suporte pós-venda.

 

O investimento da BNDESPAR na Eve foi realizado por meio da subscrição de BDRs (Brazilian depositary receipts), certificados emitidos no Brasil, lastreados em ações ordinárias emitidas pela Eve nos EUA, em uma oferta privada liderada pela BNDESPAR. Pode explicar melhor como isso funciona? Por que essa foi a modalidade escolhida de apoio?

[Marcelo Marcolino]: Na modalidade de ofertas privadas, a BNDESPAR pode investir em até 50% da rodada de aumento de capital.  Esta ancoragem feita por nós permitiu que a Eve fosse a mercado captar os 50% restantes com muito mais segurança, pois além do tamanho do cheque o mercado vê nossa participação como um selo de qualidade e garantia do investimento.

Neste caso específico o mercado viu nossa participação de forma tão positiva que a companhia conseguiu alavancar diversos investidores e captar ainda mais recursos do que previstos inicialmente.

Além disso, os BDRs negociados aqui na B3 permitirão a participação de investidores nacionais, reforçando o papel da BNDESPAR com o desenvolvimento e democratização de acesso ao nosso mercado de capitais.

 

É sabido que a Eve lançou um programa de BDRs e disponibilizou para negociação na B3 para investidores locais. Qual a relevância do apoio da BNDESPAR para o lançamento deste programa de BDRs? O que a empresa pretende fazer para aumentar a liquidez dos BDRs?

[Eduardo Couto]: O apoio da BNDESPAR foi decisivo para o sucesso do lançamento do programa de BDRs na B3. Atuando como investidor âncora na operação, a BNDESPAR reforçou a credibilidade da oferta e contribuiu para atrair outros investidores institucionais e individuais. Essa participação se soma ao histórico de apoio do BNDES ao programa eVTOL, que inclui recursos destinados ao desenvolvimento da aeronave e à construção da fábrica em Taubaté.

Para ampliar a liquidez dos BDRs e garantir maior eficiência na negociação, a Eve contratou um market maker — instituição especializada em promover a liquidez de ativos — com a função de atuar como formador de mercado. Esse serviço assegura que haja ofertas de compra e venda de forma contínua, além de contribuir para o alinhamento entre o preço das ações negociadas na NYSE e o valor dos BDRs na B3.

Essas iniciativas, combinadas à listagem simultânea no Brasil e nos Estados Unidos, fortalecem a presença da Eve nos dois mercados, ampliam o acesso de diferentes perfis de investidores e contribuem para a valorização de longo prazo dos papéis da companhia.

 

Marcelo Marcolino é contador do BNDES e superintendente da Área de Mercado de Capitais, Investimentos e Participações.

Vinicius Mazza
atua desde 2018 no processo de governança e profissionalização do Grupo Santa Clara como Diretor de Finanças e Gente e Gestão.

Eduardo Couto é Chief Financial Officer da Eve Air Mobility, liderando globalmente áreas-chave de finanças, como Tesouraria, Seguros, Gestão de Caixa, Relações com Investidores, Fusões e Aquisições e Finanças de Vendas.

 

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