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BNDES - Agência de Notícias

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16:00 25/09/2025

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O que é impulso do crédito e qual sua relação com crescimento e atividade econômica no Brasil?

 

O que é impulso de crédito?

Após a crise financeira global de 2008/2009, veio à tona um debate nas economias centrais sobre a importância do crédito na recuperação econômica.

A hipótese, inicialmente colocada por Calvo e outros, de que a retomada das economias centrais se deu mesmo sem a recuperação do estoque das operações de crédito ficou conhecida como credit-less recovery ou “Milagre de Phoenix” e foi contestada por Bigg e outros que afirmaram ser inadequada a comparação entre uma variável de estoque – a evolução da carteira – e uma variável de fluxo – o nível de atividade.

Defensores dessa segunda vertente sugerem que a comparação correta se daria entre a variação do saldo da carteira de crédito, isto é, os novos empréstimos líquidos de juros, amortizações e negociações, e variação da atividade econômica – ambas variáveis de fluxo. Em decorrência, os autores chamaram de “impulso de crédito” a relação entre a variação das concessões líquidas de crédito e o crescimento do PIB.

Partindo dessa comparação, Biggs e outros concluíram que a correlação entre crédito e atividade no pós-crise de 2008/2009 ocorreu de fato: apesar de o estoque das operações de crédito não ter apresentado recuperação, foi registrada melhora do impulso do crédito.

Impulso de crédito e crescimento econômico no Brasil 2002-2025

Extrapolando o conceito para o Brasil, o Estudo especial do BNDES 57 parte da razão entre a variação interanual (mês contra mesmo mês do ano anterior) do saldo das operações de crédito em valores correntes e o PIB nominal acumulado em 12 meses, a partir de dados Banco Central do Brasil (BCB), para buscar entender qual é a evolução do impulso do crédito no Brasil; e se o impulso do crédito tem relação com o crescimento da atividade econômica.

A partir da evolução medida do impulso do crédito no Brasil em bases anuais e da segmentação desse impulso de crédito entre recursos livres e direcionados, o artigo chega a algumas conclusões.

 

Impulso do Crédito no Brasil – 2002 a 2T2005
(% PIB)

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados do BCB.
Nota: *Dados até 2T/2025.

 

Impulso do crédito no Brasil: recursos livres vs recursos direcionados – 2002 a 2T2025 (% PIB)

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados do BCB.
Nota: *Dados até 2T/2025.

 

2002 a 2008: ampliação de emprego e renda, queda dos juros básicos e mudanças institucionais gerando impulso do crédito positivo

Neste período, o impulso do crédito foi, em sua maior parte positivo, com exceção de 2003. Foram de vital importância, principalmente a partir de 2004, a ampliação dos níveis de emprego formal e de renda (decorrente do crescimento da economia com estabilidade de preços e políticas de redistribuição de renda); a tendência de queda da taxa de juros básica da economia, com efeito em taxas de juros de modalidades como crédito direto ao consumidor para aquisição de veículos; e as mudanças institucionais como a regulamentação do crédito consignado, a alienação fiduciária e o patrimônio de afetação nos financiamentos imobiliários, a nova lei de falências em 2005, entre outras.

3T2008 a 3T2009: crise global e impulso de crédito negativo

No contexto da crise econômica global, o impulso do crédito chegou a atingir, em 2009, -3,7%, com contribuição significativa da parcela de recursos livres (-4,5%), o que ilustra a restrição de liquidez ocorrida no mercado bancário brasileiro por conta dos eventos internacionais. A atuação anticíclica dos recursos direcionados no ano de 2009 (contribuição positiva de 0,8%) compensou parcialmente os efeitos do ambiente internacional no mercado de crédito doméstico.

 

4T2009 e 2010: recuperação da economia

Com a rápida recuperação da economia, o impulso do crédito voltou ao terreno positivo.

 

2011 a 2013: impulso de crédito neutro com tendência a redução

O impulso do crédito foi mais próximo da neutralidade no período, mas com valores ligeiramente negativos e com tendência declinante, seguindo o padrão dos recursos livres, enquanto os recursos direcionados tiveram contribuição levemente positiva.

 

2014 a 2016: desaceleração econômica e recessão

A partir de 2014, o impulso do crédito entrou em um terreno contracionista, com retração dos impulsos gerados tanto pelos recursos livres, quanto pelos direcionados, na esteira da desaceleração da economia em 2014, e, posteriormente, do biênio recessivo de 2015-2016. O ano de 2016 marca o menor impulso do crédito de toda série analisada, com -5,3%

 

2017 a 2019: retomada

O impulso do crédito volta ao terreno positivo com o bom desempenho dos recursos livres, mas perda de dinamismo em 2019.

 

2020: políticas emergenciais da Covid-19

O impulso do crédito atingiu o maior valor da série histórica, 4,3%, devido às diversas políticas adotadas para garantir liquidez às empresas durante a crise decorrente da Covid-19 – como BNDES FGI-PEAC, BNDES Giro, Fampe, Pese, entre outras –, o que se expressa pela grande contribuição do segmento direcionado (3,6%).

 

Fim de 2021 e 2023: evento Americanas e redução do crédito com recursos livres

Período de tendência declinante do impulso do crédito, com comportamentos díspares entre recursos livres e direcionados. O ano de 2023 foi particularmente impactado pelo “evento Americanas”, em que fraudes contábeis no balanço da empresa resultaram em um forte aumento de aversão a risco na economia na primeira metade do ano, impactando as operações de crédito com recursos livres.

 

2024: queda da taxa básica de juros e atuação emergencial no RS

No período mais recente, o impulso do crédito voltou ao terreno positivo, liderado pelas operações com recursos livres, e influenciado, sobretudo, pelo ciclo de queda da taxa básica de juros, com seus efeitos cumulativos e defasados, ocorridos entre agosto de 2023 e agosto de 2024. A atuação emergencial com a expansão do crédito para recuperação do Rio Grande do Sul também teve papel importante.

 

2025: tendência a desaceleração

Para 2025, com dados até o segundo trimestre de 2025, o forte ciclo de aperto monetário, com a Selic atingindo 15% a.a., e a tendência de desaceleração da atividade econômica são candidatos naturais a explicar a desaceleração da medida de impulso do crédito, que atingiu 0,2%.

 

O impulso do crédito tem relação com o nível de atividade no Brasil?

Comparando o impulso do crédito com a demanda privada doméstica a preços constante de 2024 e com o IBC-Br (indicador mensal de atividade agregada do BCB), percebe-se, de forma geral, associação positiva. No entanto, dois movimentos discrepantes chamam atenção:

  1. Em 2020, o impulso do crédito se torna amplamente positivo por conta das medidas emergenciais implementadas pelo governo em função da pandemia de Covid-19, e ainda assim, há forte queda da demanda privada doméstica e do IBC-Br pelas restrições à mobilidade e circulação de pessoas; e

  2. Entre 2021 e 2023, a recuperação da economia coincide com um menor impulso do crédito pela retirada das medidas emergenciais.

O que esperar de 2025: atividade em retração?

Com base na experiência brasileira entre 2002 e 2025, o impulso de crédito se mostra, em geral, um bom indicador antecedente da atividade econômica, refletindo movimentos de aceleração ou retração que tendem a se materializar e com alguma defasagem. Dessa forma, a desaceleração observada na medida de impulso do crédito até o segundo trimestre de 2025 pode refletir e funcionar como um indicador antecedente da dinâmica da atividade econômica na segunda metade do ano. Essa relação, entretanto, dependerá da execução de políticas de crédito no contexto da guerra tarifária implementada pelos EUA, na qual o Brasil é um dos países mais impactados.

 

Acesse o estudo completo.


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