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Economia e desenvolvimento Artigo assinado

A janela histórica e o BNDES do futuro

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, escreve sobre os 71 anos do Banco e os desafios que a instituição tem para os próximos anos, em artigo veiculado no jornal O Globo e publicado na íntegra no Blog do Desenvolvimento.   

Hoje, o BNDES completa 71 anos. Com uma história que contou com o melhor do pensamento econômico e social do país – Roberto Campos, Celso Furtado, Ignácio Rangel, Maria da Conceição Tavares, entre tantos outros nomes importantes –, o BNDES sempre esteve na vanguarda das discussões sobre o desenvolvimento.

Essa instituição sempre teve que se adaptar aos novos desafios e aos novos cenários do país e do mundo, mantendo a capacidade de pensar grande para o país. Atualmente estamos passando por um novo momento de virada.

O BNDES chega aos 71 anos num momento histórico único, com um governo democraticamente eleito, que trouxe esperança e que tem um compromisso inadiável com o desenvolvimento econômico, social e ambiental.

Logo no primeiro mês, o novo governo Lula teve de enfrentar uma tentativa de golpe e se dedicou a reconstruir as instituições democráticas.

Ao mesmo tempo, avançou na restauração de importantes políticas sociais. A valorização do salário mínimo, o novo Bolsa Família, a retomada do Minha Casa, Minha Vida, o relançamento do Mais Médicos e do Farmácia Popular foram medidas relevantes para a reconstrução do país.

O Brasil recuperou o protagonismo no cenário internacional, e o ambiente macroeconômico tem melhorado significativamente, com a competente iniciativa do novo marco fiscal e com a pauta estratégica e desafiadora da reforma tributária. Os primeiros resultados foram a desaceleração da inflação, o abrasileiramento do preço dos combustíveis e a redução do preço dos alimentos.

Nas políticas ambientais, retomamos as ações de enfrentamento a desmatamento e narcogarimpo e a priorização da preservação da floresta em pé, com a geração de emprego e renda nos territórios. Merece destaque a retomada do Fundo Amazônia, gerenciado pelo BNDES.

Não há mais questionamento acadêmico possível em relação aos extremos climáticos. Hoje temos seca, inundações, condições climáticas extremas em diversos locais no país, com impacto na safra, na energia, na vida da população brasileira e mundial. Temos que contribuir e liderar para o enfrentamento da crise climática. Essa pauta veio para ficar no BNDES.

Tudo isso em meio a alguns obstáculos: a maior taxa de juros reais do planeta, que cresce a cada dia em termos reais com a queda da inflação; os impactos da maior fraude contábil de uma empresa de nossa História, no evento Americanas; e a recuperação judicial de duas empresas privatizadas, Light e Oi.

Nesse contexto, o cenário geopolítico e tecnológico impõe o desafio de construção de uma neoindustrialização, fortalecendo cadeias produtivas estratégicas em setores com vantagens competitivas como saúde, agricultura, energia, comunicações e defesa. Nesse processo, o BNDES será fundamental. Nós queremos agricultura forte, moderna, pujante e descarbonizada, mas também precisamos retomar o investimento na indústria. Precisamos abrir os horizontes do debate no país e olhar para o que estamos enfrentando no contexto mundial. O BNDES não vai abrir mão do seu papel e vai alavancar a infraestrutura e o crédito.

Com o apoio do Congresso Nacional, aprovamos a destinação de cerca de R$ 20 bilhões, em quatro anos, para inovação e digitalização, à taxa referencial. Também participamos do projeto do governo de universalização do acesso à internet em escolas e favelas, especialmente por meio do apoio do Fust, gerido pelo BNDES.

O apoio à reindustrialização passa pelo fortalecimento competitivo do comércio exterior. Liberamos até R$ 4 bilhões para que empresas com receita em dólar possam financiar a aquisição de máquinas e equipamentos de fabricação nacional. Outro avanço foi uma linha de R$ 2 bilhões com spread reduzido para exportação. Aprovamos o financiamento de 14 aeronaves da Embraer, atingindo o total de 1.281 ao longo dos anos. Na área de infraestrutura, estão previstos desembolsos de R$ 47 bilhões, com destaque para a emissão da maior debênture da História, na ordem de R$ 1,8 bilhão.

O fortalecimento dos entes federados voltou a ser prioridade para o BNDES, razão por que disponibilizamos R$ 30 bilhões para financiamento de estados e municípios em projetos de saúde, educação, segurança, saneamento, mobilidade e conectividade. Avançamos também nas captações externas, alcançando R$ 10 bilhões de recursos para desembolsos no próximo período.

Para fortalecer as micro, pequenas e médias empresas, o BNDES viabilizou R$ 21 bilhões em novos créditos garantidos pelo Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI PEAC) para microempreendedores individuais, além de micro, pequenas e médias empresas.

Para o fomento da agricultura de precisão e baixo carbono, aportamos R$ 10,5 bilhões de forma inédita e inovadora na entressafra, sendo R$ 4 bilhões na linha em dólar para o setor agroexportador e R$ 6,5 bilhões extras no Plano Safra. Ainda, em parceria com a FAO, beneficiaremos 240 mil famílias no Semiárido do Nordeste.

Em seus 71 anos de história, o BNDES sempre esteve à frente das principais missões do nosso país. O BNDES do futuro – reindustrializante, inovador, verde, inclusivo e digital – exercerá sua missão histórica de promover a retomada do crescimento, do investimento e do emprego no Brasil. Para isso, vamos continuar debatendo, formulando, estimulando e retomando o crédito público.

 

mercadante-3x4Sobre o autor

Aloizio Mercadante é presidente do BNDES, foi ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República e ministro da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação. É economista formado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP, 1976), mestre em Ciências Econômicas pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, 1989) e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia – Unicamp (2010).

 

Os conteúdos apresentados em entrevistas e artigos assinados não refletem, necessariamente, a visão do BNDES. 

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