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Matchfunding: turbinando o financiamento coletivo

O financiamento coletivo ainda é recente no Brasil, mas diferentes plataformas de crowdfunding já operam no país e vêm contribuindo para a realização de um número expressivo de projetos. O matchfunding acrescenta a esse modelo a presença de um investidor institucional, que complementa as doações captadas junto ao público e amplia as possiblidades desse tipo de financiamento. Aproveitando o lançamento do Matchfunding BNDES+Patrimônio Cultural, preparamos um artigo para que você saiba mais sobre o tema. 

Entenda o conceito

Para explicar o conceito de matchfunding vale voltar à definição de crowdfunding, um tipo de financiamento coletivo que surgiu em meados dos anos 2000 e, atualmente, responde pela arrecadação de recursos significativos para os mais diversos tipos de projeto.

Conhecido popularmente como “vaquinha virtual”, o crowdfunding nada mais é do que a arrecadação de contribuições individuais para a realização de um projeto coletivo, potencializada pelo uso de plataformas virtuais. A migração desse modelo de financiamento para o mundo virtual aumentou significativamente a visibilidade das propostas e ampliou as possibilidades de contribuição, que passaram a ser realizadas diretamente pela plataforma on-line e acompanhadas em tempo real.  

De acordo com estudo do LabExperimental, “essa possibilidade criou novos paradigmas, sendo o principal deles a forma de seleção dos projetos a serem realizados, já que não necessitam mais da chancela de grandes instituições financiadoras que ‘selam’ ou aprovam uma ideia, e sim da sociedade civil. Esses novos projetos já nascem com uma rede orgânica de apoiadores, que financiam e também se consolidam como público fiel que acompanha o seu desenvolvimento e torce pelo seu êxito”.

Aproveitando esse potencial do financiamento coletivo, o matchfunding ou matched crowdfunding acrescenta a ele o apoio financeiro de uma empresa ou instituição. Assim, os recursos levantados junto ao público por meio de pequenas doações para a realização de um projeto são complementados pela doação de um investidor institucional, que iguala ou multiplica o total arrecadado.    

 

Como funciona?

Em geral, em parceria com uma plataforma on-line de crowdfunding, o apoiador institucional define parâmetros como o orçamento total disponível e o foco dos projetos a serem financiados (por exemplo, em relação ao tema, ao tamanho e a sua localização geográfica), estabelecendo assim os critérios para quem deseja inscrever um projeto. Eles estabelecem ainda um valor mínimo a ser captado junto ao público, como uma meta de captação, para que o projeto receba o aporte de recursos da instituição.

Como explica relatório Matching the Crowd da fundação britânica Nesta, o matchfunding pode ser estruturado de algumas formas diferentes:

 

  • Investimento inicial – a instituição faz um aporte inicial de recursos ao projeto, que depois é complementado pelos recursos arrecadados junto ao público.
  • Investimento complementar – o investidor institucional exige que o projeto arrecade junto ao público um determinado percentual do valor total previsto para o projeto. Cumprida a meta, ele complementa o valor restante.
  • Investimento ponte – o investidor institucional entra no meio da campanha de arrecadação, após o cumprimento de determinada meta (por exemplo, de 15% do total). Ele faz um aporte que não chega a completar o valor total do projeto, mas ajuda a impulsionar uma etapa final de captação de recursos junto ao público.
  • Investimento em tempo real – a instituição faz os aportes em paralelo ao público, colocando o mesmo valor arrecadado ou um múltiplo da quantia.

 

Ainda segundo o estudo, entrevistas mostraram que atualmente os modelos mais populares são os de investimento complementar e em tempo real, ainda que poucas pesquisas tenham explorado os efeitos de cada modalidade sobre o processo.

 

Tendências e vantagens do matchfunding

 Segundo dados do site Fundly, o mercado de crowdfunding mundial movimentou em 2017 um valor total de US$ 5,5 bilhões (considerando apenas os sistemas baseados em doações e recompensas). Já o estudo do Nesta estima que em 2016 mais de £ 1 milhão foram arrecadadas por meio de projetos de matchfunding apenas no Reino Unido, envolvendo pelo menos 29 apoiadores institucionais diferentes. O trabalho cita a crescente utilização desse modelo de financiamento por órgãos de governo, autoridades locais, fundações e empresas, além de universidades e escolas.

A partir de entrevistas com financiadores institucionais e plataformas de crowdfunding, o Nesta identifica seis fatores que vêm impulsionando a adoção do matchfunding:

 

  • Encontrar novos projetos, pessoas e ideias – o matchfunding possibilita que as instituições encontrem projetos de regiões e de grupos sociais que normalmente não teriam acesso ao seu financiamento.
  • Potencializar os recursos – diante de um cenário de crescente restrição fiscal, especialmente no setor público, a possibilidade de arrecadar recursos junto ao público torna o matchfunding uma opção mais interessante para os investidores institucionais.
  • Alavancar as doações do público - a participação de um investidor institucional tende a alavancar as doações realizadas pelo público, ajudando a concretizar projetos de valor mais significativo. Estudo da Goteo mostra que projetos de matchfunding conseguem arrecadar, em média, 180% a mais junto ao público do que projetos sem a presença de um investidor institucional.
  • Estimular o financiamento para regiões geográficas ou temáticas específicas – o modelo pode ser uma forma de estimular iniciativas que contribuam para a revitalização de determinado local/região ou que estimulem o desenvolvimento de projetos para uma temática específica.
  • Usar o público para testar e avaliar projetos – os investidores institucionais em geral têm dificuldades para filtrar e selecionar iniciativas dentre uma grande quantidade de projetos. O matchfunding permite que o próprio público avalie os projetos e escolha os mais relevantes.
  • Aumentar o engajamento com os projetos – na perspectiva dos investidores institucionais, o matchfunding tem a vantagem também de ampliar também a conexão do público com os projetos, promovendo maior engajamento e interação em relação à iniciativa.

 

O estudo do LabExperimental assinala algumas outras qualidades desse modelo de financiamento. Segundo o trabalho, além de promover a legitimação social para do investimento institucional, o matchfunding favorece a fiscalização dos resultados pela própria rede de doadores, aumentando as chances de sucesso dos projetos. O modelo estimula ainda o surgimento de novos realizadores sociais e a experimentação com diferentes processos e formatos de iniciativas.

 

O que está acontecendo no Brasil?

 O financiamento coletivo ainda é recente no Brasil, mas diferentes plataformas de crowdfunding já operam no país e vêm contribuindo para a realização de um número expressivo de projetos. São exemplos: Catarse, Kickante, Benfeitoria, VakinhaJuntos.com.vc .

O matchfunding, ainda mais novo, também já conta com alguns casos de sucesso, como o Canal Asas, desenvolvido pela Red Bull em parceria com o Catarse, e o Matchfunding Natura Cidades, realizado pela Natura em conjunto com a Benfeitoria.

O Matchfunding BNDES + Patrimônio Cultural, lançado esta semana pelo BNDES em parceria com a Sitawi Finanças do Bem e a plataforma Benfeitoria, é a primeira iniciativa do tipo desenvolvida por uma empresa pública. Com foco em propostas que possam deixar legado para o patrimônio material ou imaterial brasileiro, o programa prevê um investimento anual de até R$ 2 milhões do BNDES, que com a arrecadação junto à sociedade poderá superar R$ 3 milhões. No programa, cumprida a meta inicial, o BNDES triplica o valor total arrecadado. 

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