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Ciência, inovação, defesa e segurança: interações para o desenvolvimento

Entrevista com a professora Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências, sobre o papel da ciência na construção da segurança nacional e a importância da multidisciplinaridade e da diversidade para o campo científico.

As discussões sobre políticas públicas relativas ao setor de defesa abrangem temas acadêmicos variados ligados à segurança climática, cibernética, energética, hídrica, alimentar e sanitária, entre outros. E a questão do desenvolvimento perpassa de forma transversal diferentes ramos da ciência.

 

Neste sentido, debates como o seminário 4ª Revolução Industrial: Desafios para Defesa, Segurança e Desenvolvimento Nacional, promovem reflexões interdisciplinares, a partir da ampliação e do aprimoramento das interações entre as capacidades civis e militares, com a integração de governo, empresas, forças armadas, academia e instituições científicas.

 

Para falar um pouco sobre tais interseções, entrevistamos a professora Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências, sobre o papel da ciência na construção da segurança nacional e a importância da multidisciplinaridade e da diversidade para o campo científico.

 

Como os atores do campo científico e acadêmico podem trabalhar em conjunto com governo, empresas e forças armadas para contribuir para as diferentes necessidades de segurança do país?

 

A ciência brasileira trabalha em conjunto com o governo e com as Forças Armadas já há muitos anos. Em relação às Forças Armadas, não podemos esquecer, por exemplo, que a criação do ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica – feita pelo Brigadeiro Montenegro há mais de 70 anos, foi um marco na área da engenharia aeronáutica. Dessa instituição (ITA) nasce, anos depois, a Embraer, que é hoje uma companhia brasileira espalhada pelo mundo e reconhecida mundialmente pelas aeronaves e pela tecnologia que produz.

 

Outro exemplo, criado pelo Almirante Álvaro Alberto em 1951, também há mais de 70 anos, à época como “Conselho do Desenvolvimento Científico”, é o Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que dá nome à sigla CNPq, que é hoje essa instituição carinhosamente chamada pelos brasileiros, por nós cientistas, professores, pesquisadores e estudantes, de Casa do Cientista Brasileiro.

 

Ou seja, essa cooperação sempre existiu. A parceria da ciência vem sempre e continuará sempre e eu tenho certeza de que os nossos parceiros da ciência são nossos parceiros também na democracia. E isso, tanto a defesa do Brasil – os militares nas suas diferentes áreas, marinha, exército e aeronáutica e a sociedade civil devem defender. Então nós estaremos sempre lutando pela democracia.

 

Precisamos de um projeto em que sociedade civil, forças armadas e o Estado brasileiro construam juntos a economia que o Brasil precisa. O país tem que decidir o que quer ser amanhã. Precisamos de financiamento contínuo e não de sobressaltos para que possamos conseguir competitividade nas diversas áreas e dar continuidade a essa nova revolução industrial.

 

Assim, a ciência que a gente produz deve ser usada para suprir as necessidades da segurança do país e neste quesito, infelizmente, estamos aquém. Se olharmos hoje, por exemplo, para a Amazônia Legal ou para a nossa costa marítima, que a gente chama de Amazônia Azul, nós vemos que não estamos protegendo essas biodiversidades da maneira adequada. Não temos sequer boias suficientes ao longo da costa para fazer o patrulhamento adequado das áreas brasileiras. É preciso muita ciência e inovação para conhecer e proteger essa biodiversidade e isso é urgente.

 

Que importância a diversidade e a inclusão têm para o sucesso dessa empreitada?

 

Qualquer empreitada tem que incluir e ser diversa. Tudo o que é feito da mesma forma, sem diversidade de pensamento e de ideias tende a falar sobre si e para si num círculo vicioso. E a ciência hoje, ontem e amanhã é transdisciplinar. Para responder a perguntas de alto impacto não basta um especialista de determinada área. São necessários especialistas de diferentes campos para se aproximar da melhor resposta. Por isso, a diversidade é fundamental.

 

Um exemplo de inclusão e diversidade: com base no marco legal da Ciência, Tecnologia e Inovação - instituído pela Lei nº 13.243/2016 e regulamentado pelo Decreto nº 9.283/2018, que favorece o desenvolvimento do ambiente de inovação no Brasil – a Marinha brasileira criou uma carreira para não militares trabalharem na área de ciência dentro da instituição.

 

Outro ponto de atenção diz respeito aos jovens, que nunca foram tão preciosos quanto hoje. O Brasil está na última janela de oportunidade da pirâmide demográfica. Ou investimos agora nos jovens para fazer a 4ª revolução industrial ou estaremos com problemas: podemos ter um projeto bom, mas sem pessoas qualificadas, não vamos conseguir.

 

Helena Nader é presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), vice-presidente da TWAS para a América Latina e o Caribe, co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências e membro do Conselho de Governança do Conselho Internacional de Ciência (ISC), membro da Academia de Ciências da América Latina, presidente honorária da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professora emérita na Universidade Federal de São Paulo. Desde 1985, é bolsista de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Sua área de pesquisa é a biologia molecular e celular dos glicoconjugados. 

 

 

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