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As exportações de bens de capital no contexto da crise internacional

A participação brasileira nas exportações mundiais em setores com elevados valor agregado e conteúdo tecnológico ainda é restrita. Apesar de o Brasil estar bem situado no ranking de fornecedores mundiais em relação a outros países em desenvolvimento, algumas características do padrão das exportações nacionais parecem constituir limitações a uma presença mais significativa nesse mercado, algo aparentemente comprovado pela queda de market share brasileiro em 2012, na comparação com 2008, entenda.

Um tema recorrente na crítica sobre a evolução recente da economia brasileira é a primarização da pauta exportadora, expressa em uma persistente tendência de aumento da participação de commodities no total das vendas ao exterior. No campo teórico, a preocupação com tal cenário é justificada pela importância conferida por vários autores, especialmente da escola cepalina, à indústria como elemento essencial do processo de desenvolvimento, pois economias especializadas na exploração de recursos naturais estariam vulneráveis a reversões súbitas dos termos de troca, com possíveis efeitos desastrosos sobre o balanço de pagamentos.

Assim, no que pesem a relativa estabilidade dos superávits da conta capital e financeira e a existência de um colchão de reservas internacionais em posse do Banco Central, ao observar a atrofia de seu setor produtor de bens manufaturados, o Brasil tornou-se vulnerável à atual reversão do ciclo da demanda internacional por produtos agrícolas e minerais.

Diante desse quadro, fica evidente a importância de entender se, e em que medida, a concentração das exportações brasileiras em bens primários é sintomática de uma perda de competitividade global da indústria. A participação brasileira nas exportações mundiais em setores com elevados valor agregado e conteúdo tecnológico ainda é restrita. Apesar de o Brasil estar bem situado no ranking de fornecedores mundiais em relação a outros países em desenvolvimento, algumas características do padrão das exportações nacionais parecem constituir limitações a uma presença mais significativa nesse mercado, algo aparentemente comprovado pela queda de market share brasileiro em 2012, na comparação com 2008.

Market-share brasileiro em bens de capital por setor, 2008-2012

tabela com dados sobre o market share brasileiro em bens de capital por setor entre 2008-2012

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da BACI.

 

Primeiramente, a participação do Brasil é mais forte em subsetores cuja demanda global é relativamente limitada e pouco dinâmica (máquinas agrícolas), com presença menor naqueles que constituem o grosso dos fluxos de exportações mundiais (máquinas e equipamentos). Em segundo lugar, comparativamente aos mais notáveis casos de sucesso, a pauta brasileira exibe uma base composta por um grande número de produtos com baixíssima participação no total de seus mercados específicos, complementada por uma seleção estreita de produtos cuja participação é apenas mediana. Terceiro, a distribuição geográfica das exportações revela-se limitada principalmente à América do Sul, onde também sofre concorrência acirrada, sendo quase inexistente no mercado de maior porte e vigor, que é Ásia.

Portanto, o desempenho das exportações brasileiras de bens de capital é extremamente vulnerável à conjuntura dos países vizinhos. Finalmente, a decomposição das variações da participação de mercado brasileira mostra a contribuição líquida positiva de fatores de demanda sobre a variação das exportações no período, mas sugere também uma perda significativa de competitividade da indústria nacional entre 2008 e 2009, que começou a ser revertida apenas em 2012.

 

Esse é um trecho do artigo As exportações mundiais de bens de capital no contexto da crise financeira internacional, publicado no BNDES Setorial 45. Você pode baixar esse e os demais artigos em versão digital (PDF) na página da publicação.

 

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