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Economia e desenvolvimento Artigo assinado

O potencial da economia circular para criação de novos modelos de negócio e de produção

A difusão da economia circular é parte da Agenda 2030 da ONU. Modelos de produção e consumo circulares reduzem a dependência em relação a recursos naturais não renováveis, auxiliando ainda na diminuição da degradação ambiental e da produção de resíduos. Confira um resumo do estudo produzido por analistas do BNDES, que é parte de publicação sobre economia circular a ser lançada em fevereiro.

A circularidade das atividades produtivas está associada aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e contribui diretamente para assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis (ODS 12).

No modelo linear de produção, os recursos são extraídos do meio ambiente, transformados em produtos e descartados após o uso. O descarte de resíduos e produtos, quando feito de maneira inadequada, pode gerar problemas de contaminação ambiental. Dessa forma, esse modelo exige investimentos crescentes para disposição segura de resíduos e gera dependência de recursos não renováveis.

Para além de ações concentradas na gestão de resíduos e na reciclagem, a economia circular representa uma visão mais ampla, na qual a geração de valor independe do consumo crescente de novos recursos e deve ser sustentada pelo redesenho de processos e produtos e por novos modelos de negócio, com foco em otimizar a utilização dos recursos disponíveis. Esse conceito ainda não foi plenamente compreendido pela sociedade, já que muitas empresas continuam associando economia circular tão somente às práticas internas de reciclagem.

 

Estudo aponta estratégias para impulsionar a economia circular no país

Nesse contexto e diante da relevância que a economia circular vem alcançando nas estratégias de governos e empresas, o tema é abordado em estudo produzido por empregados do BNDES para o livro Economia circular: debate global, aprendizado brasileiro, a ser lançado em fevereiro. No capítulo intitulado Economia circular: caminhos para o Brasil, os autores relatam as conclusões de encontro realizado no Banco que reuniu diversos atores da sociedade para discutir o tema e explorar caminhos para o desenvolvimento de soluções e negócios alinhados aos preceitos de economia circular no país. 

O estudo registra que o avanço da economia circular requer o engajamento de todos os setores da sociedade. Nesse processo, agentes com diversos focos de atuação precisam estar alinhados de forma a contribuir para a construção de caminhos viáveis de geração de valor. É fundamental, por exemplo, que o governo exercite seu papel de coordenação entre os diferentes agentes públicos por meio de uma governança eficiente, abrindo caminho para atuação da iniciativa privada, estimulando práticas de inovação e investindo em ações de conscientização e educação para a sociedade civil.

Para isso, é necessário que o conceito de economia circular esteja inserido no cotidiano da população, de forma que sejam repensados não apenas padrões de consumo e destinação de resíduos como também modelos produtivos e mindset de negócios, promovendo assim a construção de hábitos circulares. As alternativas para difundir a temática na sociedade vão desde a disponibilização de plataformas com conteúdo de economia circular, incluindo cursos gratuitos que podem servir de apoio ao ensino nas escolas, até a criação de linhas de crédito de apoio a projetos implementadores do modelo circular. Tratam-se de iniciativas importantes, que potencializam as capacidades produtivas no país e maximizam a geração de valor pelo uso eficiente e sustentável de nossas riquezas naturais.

Por fim e como importante contribuição para o alcance dos ODS, a aplicação do conceito de economia circular, pelos diversos agentes e atividades no Brasil, deve estar calcada nas realidades e potencialidades do país e na promoção do desenvolvimento nos pilares econômico, social e ambiental.

 

O apoio do BNDES à economia circular

O BNDES possui longo histórico de apoio a uma diversidade de projetos no campo da economia circular, contribuindo para o alcance dos ODS. Essa atuação contempla diferentes produtos e soluções, como linhas de apoio a inovação; aquisição de máquinas e equipamentos que reduzem o consumo de energia e de insumos (BNDES Finame Baixo Carbono); investimentos públicos e privados na área de saneamento básico e recuperação de áreas degradas; melhor uso dos recursos naturais; geração de energia alternativa; e eficiência energética.

A adoção de práticas e modelos circulares representa uma grande oportunidade de inovação para empresas de todos os portes, com contribuição para o desenvolvimento sustentável brasileiro. Contudo, é relevante ressaltar que esse movimento precisa estar conjugado a instrumentos de política industrial, a exemplo do uso de encomendas tecnológicas e do poder de compra do Estado; de parcerias público-privadas; da existência de linhas de financiamento adequadas; do uso convergente de fundos setoriais e regionais; do compartilhamento de risco; do apoio à pesquisa, desenvolvimento e inovação para a difusão de tecnologias habilitadoras; e do apoio a cadeias produtivas estratégicas e difusoras de tecnologias.

O BNDES tem como papel, nesse contexto, possibilitar a conexão dos mercados nacional, regional e internacional, alavancando recursos públicos e privados, criando oportunidades de ação e financiando projetos que fomentem o desenvolvimento do país. Em especial, no campo da política industrial, isso se traduz no apoio à inovação por meio de tecnologias habilitadoras como internet das coisas (IoT), novos materiais, inteligência artificial (IA) e biotecnologia, que perpassam todos os setores produtivos. Os projetos inovadores podem e devem focar nas questões socioambientais ligadas à economia circular, possibilitando novas oportunidades de atuação e inserção tecnológica das empresas.

 

Sobre os autores

Ana Cristina Costa é economista e coordenadora de Estratégia Industrial e Desenvolvimento da Área de Indústria, Serviços e Comércio Exterior (AI) do BNDES.

Rodrigo Mendes e Isabelle Nascimento são, respectivamente, economista e estagiária de engenharia do Departamento de Indústrias de Base e Extrativa da AI.

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