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Indústria e comércio exterior Entrevista

Estratégias para a transição energética: oportunidades e desafios para o Brasil

No âmbito do VI Congresso Internacional do Centro Celso Furtado – "O debate do desenvolvimento frente ao avanço do conservadorismo" – conversamos com o professor André Tosi Furtado, doutor pela Universidade de Paris I (Pantheon-Sorbonne) e professor titular da Unicamp, sobre estratégias nacionais de transição energética e reindustrialização.

No âmbito do VI Congresso Internacional do Centro Celso Furtado – "O debate do desenvolvimento frente ao avanço do conservadorismo" – conversamos com o professor André Tosi Furtado sobre estratégias nacionais e supranacionais de transição energética e reindustrialização, tema da mesa por ele mediada.

André Tosi Furtado é doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Paris I (Pantheon-Sorbonne) e professor titular do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. 

Veja abaixo suas respostas.

 

Cerca de 90% da matriz elétrica brasileira é renovável. Quando analisamos a matriz energética, esse número cai para 50%. Quais os desafios para tornar essa matriz mais verde?

É verdade que o Brasil sempre teve uma participação expressiva de energias renováveis em sua matriz energética. Porém, essa participação não deve ser sobrevalorizada. Na matriz elétrica, devido ao predomínio histórico da hidroeletricidade, a participação das renováveis era de 90%. Porém, ela decaiu em função do baixo crescimento da oferta dessa fonte de energia. A manifestação desse fenômeno ocorreu na crise do apagão no início deste século. Esse espaço foi sendo ocupado pelo gás natural, e mais recentemente pelas novas fontes renováveis tais como a eólica, a biomassa e ainda mais recentemente a solar. O problema está em que tanto a eólica quanto a solar são fontes intermitentes, o que faz pensar que as energias fósseis, principalmente o gás natural, irão ocupar uma parcela dificilmente compressível da geração de energia elétrica. Além do mais, existe o risco de que, com novas e cada vez mais frequentes secas, a parcela da geração hidroelétrica caia nos próximos anos.  No caso das demais fontes de energia secundárias, o predomínio dos derivados de petróleo é ainda expressivo. Os biocombustíveis ainda enfrentam problemas de oferta e de demanda e a fração dessas fontes em setores como o de transportes não tem conseguido avançar expressivamente ao longo das últimas décadas. Portanto, ainda que o Brasil tenha uma posição muito favorável, é provável que a parcela das energias renováveis na matriz energética tenha dificuldade em avançar e possa até recuar, sobretudo no que tange à geração de energia elétrica. 

 

Como garantir a reindustrialização fundamental para o crescimento do país ao mesmo tempo em que se viabiliza uma transição energética (que requer amadurecimento tecnológico, infraestrutura etc.)?

A transição energética para fontes renováveis irá requerer importantes investimentos. Entretanto, o impacto desses investimentos no sistema econômico nacional varia em função da fonte de energia. A indústria brasileira é capaz de ofertar e possui maior domínio tecnológico sobre as fontes de energia renováveis convencionais (hidroeletricidade e biocombustíveis). No caso da energia eólica, graças a uma política industrial e tecnológica desenvolvida na década passada, a economia brasileira se tornou capaz de ofertar equipamentos e gerar tecnologia. Contudo, essa situação é diametralmente diferente quando se trata da energia fotovoltaica, onde a quase totalidade dos equipamentos é importada e o domínio tecnológico local é muito limitado. O mesmo acontece com as tecnologias de armazenamento de energia elétrica e com os veículos elétricos, embora neste último caso se vislumbre uma perspectiva de internalização da fase final de fabricação. Portanto, a reindustrialização exige uma política industrial e tecnológica mais firme na energia fotovoltaica, em baterias e carros elétricos. 

 

Considerando que a transição energética terá um custo que rebaterá na produção industrial, garantir a competitividade dos produtos verdes parece ser um desafio – especialmente se levarmos em consideração que nem todos os países estarão no mesmo momento da transição. Como equilibrar os mercados ainda estimulando a transição energética internacionalmente?

Os produtos industriais verdes irão custar mais que aqueles que utilizam energias fósseis. A competitividade desses produtos deve ser pensada comparando com produtos verdes de outros países. Nesse contexto, o Brasil possui importantes vantagens comparativas devido à maior disponibilidade local de recursos energéticos renováveis. Competir com os produtos poluentes requererá uma regulação internacional que taxe as emissões de carbono e/ou estabeleça metas de descarbonização por meio da comercialização de certificados verdes. 

 

Quais as oportunidades para o Brasil na transição energética mundial?

Por ser um país ricamente dotado de recursos energéticos renováveis, além de minerais críticos para a transição como lítio, cobre e níquel, entre outros, o Brasil oferece uma excelente perspectiva para a transição energética. Porém, para evitar que essas novas atividades não se tornem enclaves de exportação, com baixos vínculos com sistema econômico e de inovação nacional, o país precisa de uma política de inovação, que combine estímulo industrial com geração de tecnologia.

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