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Política industrial e tecnológica – uma visão para o Brasil

Selecionado no Prêmio ABDE-BID 2018, o artigo Uma visão de política industrial para o Brasil: resultados a partir de uma proposta de Matriz Tecnológica, elaborado por um grupo de economistas e engenheiros da Área de Indústria e Serviços do BNDES, apresenta um mapeamento das principais bases de conhecimento e setores industriais a serem considerados na elaboração de uma nova política industrial e tecnológica para o Brasil. Saiba mais a seguir. 

Selecionado no Prêmio ABDE-BID 2018, o artigo Uma visão de política industrial para o Brasil: resultados a partir de uma proposta de Matriz Tecnológica, elaborado por um grupo de economistas e engenheiros da Área de Indústria e Serviços do BNDES, apresenta um mapeamento das principais bases de conhecimento e setores industriais a serem considerados na elaboração de uma nova política industrial e tecnológica para o Brasil. Saiba mais a seguir. 

 

 A importância da indústria para a promoção do desenvolvimento – diferentes visões teóricas

 

Durante os anos 1980 e 1990, ganhou ampla aceitação a ideia de que a política industrial deveria cair em desuso ou mesmo de que ela teria se tornado “tóxica” (Wade, 2017). Diversos economistas já enfatizaram exaustivamente os malefícios da política industrial, inclusive considerando que a indústria não seria particularmente importante vis-à-vis os demais setores da economia. Considera-se que a alocação promovida pelo mercado geraria o resultado mais eficiente, enquanto a intervenção em favor do setor industrial seria convidativa a práticas de rent seeking

Há outra literatura que, por sua vez, sempre conferiu à indústria um papel de destaque. As chamadas “três leis de Kaldor” encapsulam a relevância do setor manufatureiro para o crescimento econômico, para o crescimento da produtividade e também do emprego. Autores como Andreoni e Chang (2016), sustentam que o setor é a principal fonte de ganhos de produtividade da economia, configurando-se como um learning centre das economias modernas, ou como um grande difusor de inovações tecnológicas. 

Partindo da premissa de que o setor possui importância específica para o desenvolvimento, deve-se considerar que ele não pode ser visto como uma panaceia e que os resultados esperados dependem de diversas circunstâncias. Nos termos de Wade (2015), a política industrial é apenas uma inner wheel (engrenagem interna) cujos efeitos dependem bastante de outer wheels (engrenagens externas) - como, por exemplo, as condições macroeconômicas ou as coalizões políticas subjacentes.

 

 As políticas industriais ontem e hoje

 

A experiência histórica mostra que diversos países hoje desenvolvidos se valeram - e ainda se valem - do uso de políticas específicas para transformar sua estrutura produtiva, realizando um esforço deliberado no sentido de dar proeminência aos seus setores industriais. 

Após a crise de 2007-2008 surgiu um novo interesse pelas políticas industriais e da visão de que a indústria é um setor destacado. Esse movimento vem sendo liderado, principalmente, pelos países de industrialização madura que perderam participação industrial - como EUA, Alemanha, Inglaterra e Japão - mas também conta com iniciativas relevantes de países de industrialização mais recente - como China e Índia - que buscam maior protagonismo global. Chama a atenção que, além da tentativa de retomar a primazia industrial, há bastante ênfase nas chamadas tecnologias habilitadoras. 

São exemplos disso iniciativas importantes de países como EUA - Advanced Manufacturing Initiative; Alemanha -  High Tech Strategy; Reino Unido - Foresight; França - Nouvelle France Industrielle; China - Made in China 2025; e  Índia - Make in India.

 

Caminhos para a construção de uma política industrial e tecnológica para o Brasil

 

Considerando que uma indústria competitiva é central para o desenvolvimento do Brasil, é importante que se crie uma “orientação de futuro” para o setor. Para isso, é importante partir de uma visão integrada dos principais desafios presentes nos diversos setores industriais, identificando as tecnologias habilitadoras e os sistemas industriais mais promissores, concatenando as políticas produtivas e tecnológicas. 

Como defende Andreoni (2017), mapear quais são as tecnologias emergentes e quais são as atividades econômicas, novas ou tradicionais, buscando-se valer delas para introduzir novos produtos ou novas formas de produzir se converteu em uma das principais ferramentas das políticas industriais modernas. 

Em um primeiro esforço para desenvolver um mapeamento desse tipo para o Brasil, trabalho elaborado pelo BNDES apresenta uma Matriz Tecnológica que relaciona diferentes bases de conhecimento – que agregam tecnologias ou aplicações com finalidade similar – aos principais segmentos industriais. A matriz permite uma leitura através das linhas mostrando como as tecnologias se difundem pelos diversos setores. Pelas colunas, é possível observar quais setores tem maior capacidade de absorção de bases de conhecimento. 

Clique na imagem para aumentar:

BNDES - imagem ilustrativa 


Este texto é baseado no artigo Uma visão de política industrial para o Brasil: resultados a partir de uma proposta de matriz tecnológica, dos autores Thiago Miguez, Gabriel Daudt, Bruno Plattek, Luiz Daniel Willcox e Sergio Schmitt, todos do Departamento de Bens de Capital, Mobilidade e Defesa da Área de Indústria e Serviços do BNDES.  

 

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Referências

ANDREONI, A. Industrial ecosystems and policy for innovative industrial renewal: a new framework and emerging trends in Europe. London: SOAS University of London, 2017. No prelo.

 

ANDREONI, A.; CHANG, H. J. Industrial policy and the future of manufacturing. Economia e Politica Industriale: Journal of Industrial and Business Economics, Milano, v. 43, n. 4, p. 491-502, Spring 2016.

 

WADE, R. The role of industrial policy in developing countries. In: CALCAGNO, A.; DULLIEN, S.; MÁRQUEZ-VELÁZQUEZ, A.; MAYSTRE, N.; PRIEWE, J. (Ed.) Rethinking development strategies after the financial crisis: making the case for policy space. New York: United Nations Publications, 2015. v.1. p. 67-79.

 

______. The American Paradox: Ideology of Free Markets and the Hidden Practice of Directional Thrust. Cambridge Journal of Economics, Cambridge, UK, v. 41, n. 3, p. 859-880, May 2017.

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